EMPACTOS AMBIENTAIS
• As chuvas Ácidas
LIXO E IMPACTOS AMBIENTAIS PERCEPTÍVEIS NO ECOSSISTEMA URBAN0 NO BRASIL
RESUMO: Este artigo tem como temática o lixo e considerações a respeito de determinados impactos ambientais
perceptíveis que os resíduos sólidos potencializam em fragmentos do ambiente urbano. Abordamos
impactos ambientais negativos ocasionados pelas formas de uso, costumes e hábitos culturais
perceptíveis em cidades do Brasil. Registramos que o lixo causa impactos negativos em determinados
ambientes urbanos como margens de ruas e leito de rios, pela existência de hábitos de disposição final
inadequada de resíduos. Apresentamos parte da percepção ambiental de atores sociais da cidade de
Medianeira - Oeste do Paraná, Brasil - a respeito do lixo.
Palavras-chave: Ecossistema urbano. Lixo. Impacto AmbientalL
1 INTRODUÇÃO
A criação das cidades e a crescente ampliação
das áreas urbanas têm contribuído para o crescimento
de impactos ambientais negativos. No ambiente
urbano, determinados aspectos culturais como o
consumo de produtos industrializados e a necessidade
da água como recurso natural vital à vida, influenciam
como se apresenta o ambiente. Os costumes e hábitos
no uso da água e a produç ão de r e s íduos pe loSociedade & Natureza, Uberlândia, 20 (1): 111-124, jun. 2008
Lixo e impactos ambientais perceptíveis no ecossistema urbano
Carlos Alberto Mucelin, Marta Bellini
e x a c e r b a d o c o n s u m o d e b e n s m a t e r i a i s s ã o
responsáveis por parte das alterações e impactos
ambientais.
Alterações ambientais físicas e biológicas ao
l o n g o d o t e m p o m o d i f i c a m a p a i s a g e m e
comprometem ecossistemas. Para Fernandez (2004)
as alterações ambientais ocorrem por inumeráveis
causas, muitas denominadas naturais e outras oriundas
de intervenções antropológicas, consideradas não
naturais. É fato que o desenvolvimento tecnológico
contemporâneo e as culturas das comunidades têm
contribuído para que essas alterações no e do ambiente
se intensifiquem, especialmente no ambiente urbano
Atualmente a maior parte das pessoas habita
ambientes urbanos. Dados apresentados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2004)
indicam que no Brasil mais de 80% das pessoas são
moradores urbanos. Odum (1988) considera que a
acelerada urbanização e crescimento das cidades,
especialmente a partir de meados do século XX
promoveram mudanças fisionômicas no Planeta, mais
do que qualquer outra atividade humana.
É possível observamos que determinados
impactos ambientais estão se acirrando, motivado
entre outras coisas pelo crescimento populacional
registraram uma projeção de mais de 6 bilhões de
seres humanos na Terra para 2006. Estimativas
publicadas pelo IBGE (2006) em maio de 2006
indicavam que a população mundial era de 6,8 bilhões
de pessoas. Destes, segundo Fernandez (2004, p. 177)
aproximadamente 5 bilhões vivem nos países pobres,
com sua maioria em um crescente quadro de pobreza
e miséria, especialmente nos arredores das cidades.
A população do Brasil apresenta a mesma
tendência mundial de ocupação ambiental, ou seja,
opta pelo ecossistema urbano como lar. Ott (2004, p.
17) considera que a transformação do Brasil de país
rural para urbano ocorreu segundo um processo
predatório em essência, com acentuada exclusão
social de classes da população menos privilegiada que
por não terem condições de aquisição de terrenos em
áreas urbanas estruturadas ocupam "[...] em sua
maioria, terrenos que deveriam ser protegidos para
preservação das águas, encostas, fundos de vale entre
outros".
O morador urbano, independentemente de
classe social, anseia viver em um ambiente saudável
que apresente as melhores condições para vida, ou
seja, que favoreça a qualidade de vida: ar puro,
desprovido de poluição, água pura em abundância
entre outras características tidas como essenciais.
Entretanto, observar um ambiente urbano implica em
perceber que o uso, as crenças e hábitos do morador
citadino têm promovido alterações ambientais e
impactos significativos no ecossistema urbano. Essa
situação é compreendida como crise e sugere uma
reforma ecológica.
Há mais de vinte anos Viola (1987, p. 129)
sugere que a reforma urbana ecológica aponte para
uma c idade ma i s democ r á t i c a , ma i s humana e
respirável: a cidade do ser humano. Não é apenas a
cidade onde os aluguéis e transportes sejam mais
acessíveis, na qual cada família tenha direito a um
terreno, mas também um ambiente urbano mais
a r b o r i z a d o , m a i s s i l e n c i o s o e a l e g r e , m e n o s
verticalizado, menos agressivo e com menores índices
de poluição do ar.
A expressão "reforma ecológica" que Viola
(1987) usa para reivindicar um ambiente urbano
melhor, sugere, de imediato, que tal ambiente está
aquém de uma cidade ideal como propôs Tuan (1980).
No Brasil, acreditamos que tal "reforma" seja urgente,
especialmente no ambiente urbano pelos perceptíveis
impactos ambientais negativos.
O lixo urbano, muitas vezes, é responsável
pelos impactos ambientais que mencionamos. Neste
artigo, apresentamos considerações a respeito do lixo
e de fragmentos do ambiente urbano que sofrem
impactos negativos pela disposição inadequada desses
r e s íduos . Apr e s ent amos t ambém a pe r c epç ão a
respeito do lixo de um grupo de atores sociais de uma
pequena cidade da região Oeste do Paraná, Brasil,
que foram investigados.Sociedade & Natureza, Uberlândia, 20 (1): 111-124, jun. 2008
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Lixo e impactos ambientais perceptíveis no ecossistema urbano
Carlos Alberto Mucelin, Marta Bellini
2 O CONSUMO DE BENS MATERIAIS E O
LIXO
A c u l t u r a d e u m p o v o o u c o m u n i d a d e
caracteriza a forma de uso do ambiente, os costumes
e os hábitos de consumo de produtos industrializados
e da água. No ambiente urbano tais costumes e hábitos
implicam na produção exacerbada de lixo e a forma
com que esses resíduos são tratados ou dispostos no
ambiente, gerando intensas agressões aos fragmentos
do contexto urbano, além de afetar regiões não
urbanas.
O c o n s u m o c o t i d i a n o d e p r o d u t o s
industrializados é responsável pela contínua produção
de lixo. A produção de lixo nas cidades é de tal
intensidade que não é possível conceber uma cidade
sem considerar a problemática gerada pelos resíduos
sólidos, desde a etapa da geração até a disposição
final. Nas cidades brasileiras, geralmente esses
resíduos são destinados a céu aberto (IBGE, 2006).
Lixo é uma palavra latina (lix) que significa
cinza, vinculada às cinzas dos fogões. Segundo
Ferreira (1999), lixo é "aquilo que se varre da casa,
do jardim, da rua e se joga fora; entulho. Tudo o que
não presta e se joga fora. Sujidade, sujeira, imundície.
Coisa ou coisas inúteis, velhas, sem valor". Jardim e
Wells (1995, p. 23) definem lixo como "[...] os restos
das atividades humanas, considerados pelos geradores
como inúteis, indesejáveis, ou descartáveis".
Em médi a , o l ixo domé s t i co no Br a s i l ,
segundo Jardim e Wells (1995) é composto por: 65%
de matéria orgânica; 25% de papel; 4% de metal; 3%
de vidro e 3% de plástico. Apesar de atender a
legislação específica de cada município, o lixo
comercial até 50 kg ou litros e o domiciliar são de
responsabilidade das prefeituras, enquanto os demais
são de responsabilidade do próprio gerador.
É inevitável a geração de lixo nas cidades
devido à cultura do consumo. Segundo o IBGE, em
2006, o Brasil é constituído por 5.507 municípios e
na última Pesquisa Nacional de Saneamento Básico,
realizada no ano de 2000 pelo IBGE, foi registrado
que somente 33% (1.814) dos 5.475 municípios
daquele ano coletavam a totalidade dos resíduos
domiciliares gerados nas residências urbanas de seus
territórios. Os dados dessa pesquisa revelaram que
diariamente o Brasil gerava 228.413 toneladas diárias
de resíduos sólidos. Isso implica numa produção de
1,2 kg/habitante (IBGE, 2006).
A problemática ambiental gerada pelo lixo é
de di f í c i l soluç ão e a ma ior pa r t e da s c idade s
brasileiras apresenta um serviço de coleta que não
prevê a segregação dos resíduos na fonte (IBGE,
2006). Nessas cidades é comum observarmos hábitos
de disposição final inadequados de lixo. Materiais
s e m u t i l i d a d e s e a m o n t o a m i n d i s c r i m i n a d a e
desordenadamente, muitas vezes em locais indevidos
como lotes baldios, margens de estradas, fundos de
vale e margens de lagos e rios.
3 A DISPOSIÇÃO FINAL DO LIXO: HÁBITOS
URBANOS VISÍVEIS
Entre os impactos ambientais negativos que
p o d em s e r o r i g i n a d o s a p a r t i r d o l i x o u r b a n o
produzido estão os efeitos decorrentes da prática de
disposição inadequada de resíduos sólidos em fundos
de vale, às margens de ruas ou cursos d’água. Essas
práticas habituais podem provocar, entre outras coisas,
contaminação de corpos d’água, assoreamento,
enchentes, proliferação de vetores transmissores de
doenças, tais como cães, gatos, ratos, baratas, moscas,
vermes, entre outros. Some-se a isso a poluição visual,
mau cheiro e contaminação do ambiente.
A vivência cotidiana muitas vezes mascara
circunstâncias visíveis, mas não perceptíveis. Mesmo
contemplando casos de agressões ao ambiente, os
hábitos cotidianos concorrem para que o morador
urbano não reflita sobre as conseqüências de tais
hábitos, mesmo quando possui informações a esse
respeito.
Considerando o pressuposto de que os seres
humanos são essencialmente ambientais e, como tais,
tendem a subjetivamente perceber o ambiente por
meio de signos que engendram a imagem ambiental,Sociedade & Natureza, Uberlândia, 20 (1): 111-124, jun. 2008
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Lixo e impactos ambientais perceptíveis no ecossistema urbano
Carlos Alberto Mucelin, Marta Bellini
como se processa a percepção ambiental? Para Ferrara
(1999, p. 153) percepção ambiental é "[...] informação
n a m e s m a m e d i d a e m q u e i n f o r m a ç ã o g e r a
informação: usos e hábitos são signos do lugar
informado que só se revela na medida em que é
submetido a uma operação que expõe a lógica da sua
l i n g u a g em. A e s s a o p e r a ç ã o d á - s e o n ome d e
percepção ambiental".
Mucelin e Bellini (2006) enfatizam que no
contexto urbano as condições apresentadas pelo
ambiente "[...] são influenciadas, entre outros fatores,
pela percepção de seus moradores, que estimulam e
engendram a imagem ambiental determinando a
formação das crenças e hábitos que conformam o
uso".
As a t ividade s cot idi ana s condi c ionam o
morador urbano a observar determinados fragmentos
do ambiente e não perceber situações com graves
impactos ambientais condenáveis. Casos de agressões
ambi ent a i s como polui ç ão vi sua l e di spos i ç ão
inadequada de lixo refletem hábitos cotidianos em
que o obs e rvador é compe l ido a conc ebe r t a i s
situações como "normais".
Andar pela cidade e contemplar os fragmentos
habituais – regiões do ambiente urbano que compõem
esse ecossistema – permite observar paisagem que
retrata hábitos edificados temporal e culturalmente.
Muitos são visíveis e se apresentam no mosaico de
possibilidades da cena urbana. No entanto, nem
sempre tais circunstâncias são percebidas e o morador
local, pela vivência cotidiana habitual, não reflete
sobre o contexto onde vive.
A disponibilidade de água facilita ou contribui
para o desenvolvimento urbano, que leva em conta
os recursos hídricos para a edificação das cidades.
No ambiente urbano é fundamental o abastecimento
de água e o tratamento de esgotos e águas pluviais.
Por i s so, a s c idade s , ge r a lment e , s ão fundada s
próximas ou sobre o leito de rios por razões óbvias:
facilidade na obtenção de água. Nas cidades do Brasil
é perceptível um padrão de construção de edifícios
junto a leitos de rios (Figura 1). Suas margens,
e n t r e t a n t o , d e v e r i a m s e r p r e s e r v a d a s c o m a
manutenção da mata ciliar ou de galeria. Também é
possível observar que na maioria dos casos, o rio é
usado como local de disposição final de lixo, um
hábito cultural existente e condenável.
Figura 1. O rio no perímetro urbano, edificações e hábitos visíveis e condenáveis. Fotografia (a): cidade de Palmas –
PR (2006). Fotografia (b): cidade de Medianeira – PR (2006). Autor: Carlos Alberto Mucelin
Fotografia (a) Fotografia (b) Sociedade & Natureza, Uberlândia, 20 (1): 111-124, jun. 2008
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Lixo e impactos ambientais perceptíveis no ecossistema urbano
Carlos Alberto Mucelin, Marta Bellini
À m e d i d a q u e a c i d a d e s e e x p a n d e ,
freqüentemente, ocorrem impactos com o aumento
d a p r o d u ç ã o d e s e d i m e n t o s p e l a s a l t e r a ç õ e s
ambientais das superfícies e produção de resíduos
sólidos; deterioração da qualidade da água pelo uso
nas atividades cotidianas, e lançamento de lixo, esgoto
e águas pluviais nos corpos receptores.
Pela relação habitual humana com o ambiente,
com hábitos comumente observáveis no cenário
urbano e, tais como os apresentados na Figura 1, é
que Odum (1988) e Rickefs (1996) consideram a
cidade uma das maiores fontes de agressão ambiental,
embora a poluição dos mananciais na área urbana
ocorra de várias outras maneiras. Constituem fontes
poluidoras os esgotos domésticos, comerciais e
industriais e a destinação inadequada de resíduos
sól idos em fundos de va l e , ma rgens de r ios e
monturos.
O manancial hídrico é importante na definição
d o a m b i e n t e p a r a a c o n s t r u ç ã o d a c i d a d e .
Inevitavelmente, o desenvolvimento urbano tende a
contaminar o ambiente com despejo de esgotos
cloacais e pluviais. Os rios são utilizados como corpos
r e c e p t o r e s d e e f l u e n t e s e a i n d a , o l i x o , q u e
inadequadamente também é depositado nas margens
e leito.
A disponibilidade de água facilita ou contribui
para o desenvolvimento urbano, que leva em conta
os recursos hídricos para a edificação das cidades.
No ambiente urbano é fundamental o abastecimento
de água e o tratamento de esgotos e águas pluviais.
O uso da água na cidade, tipicamente, tem
um ciclo característico de impacto ambiental negativo.
A água é coletada de uma fonte local (rio, lago ou
lençol freático), é tratada, utilizada e retorna para um
corpo coletor. Nesse retorno só excepcionalmente ela
conserva as mesmas características de quando foi
captada. Ocorrem alterações nas composições de sais,
matéria orgânica, temperatura e outros resíduos
poluidores.
Al ém d e s t e s imp a c t o s , em r e l a ç ã o a o s
recursos hídricos, ainda existem aqueles causados
pela deficiente infra-estrutura urbana: obstrução de
escoamentos por construções irregulares, obstrução
de rios por resíduos, projetos e obras de drenagem
inadequadas.
A poluição dos mananciais na área urbana
ocorre de várias maneiras. No contexto urbano, outro
fragmento do ambiente utilizado para a disposição
final inadequada de lixo são os lotes baldios e as
margens de ruas e estradas.
alunos ;Emanuele Ribeiro
Romario Oliveira e Wilson jr
turma 2 ano c
prof M arineuza
Palavras-chave
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